E todas as duvidas e remorsos que a
tempos vagam longe mim, resolvem visitar-me. Enquanto isto, minhas forças,
despiram-se de suas fantasias e delicados sonhos para recebe-las aconchegantemente
convidando-as para um diálogo íntimo e pessoal…
- Com que direito aparecem indesejamente sem comunicar-me e trazem consigo todas estas malas como se tivessem voltado com a pretensão de ficar? Já não nos despedimos anteriormente? Não acertamos todas nossas dividas?
- Quanta agressidade meu querido! Já fostes mais receptivo… esqueceu que te deliciavas com toda a confusão que te proporcionavamos e que adoravas embriagar-se em cada gota de dor que te ofereciamos? Esqueceu que todo o padecimento com o qual te presenteamos foram a grande inspiração para que escrevesses teus mais belos – e mízeros – poemas dos quais tanto te orgulhas? Alias, por onde anda toda aquela insanidade poética presente em teus escritos? Que tantas cores, risos e luzes são estas que aos poucos vêm preenchendo teus versos? Resolvestes encantar teu mundo iludindo-te novamente com todas essas químeras com as quais os humanos vivem a respirar?
- Eu quase fui destruido, mergulhei num oceano de gritos apavoradamente ensurdecedores, os ruidos me impediam de ouvir a voz de Deus quando o mesmo queria falar comigo, cheguei a acreditar que havia sido abandonado ate mesmo por Ele, quase perco minha fé, juntamente com tudo que vocês levaram de mim: minhas esperanças, sonhos, fantasias, admirações… alias, é isto que trazem na bagagem? Vieram devolver-me tudo o que me foi levado anos atrás? Pois se este é o proposito de vossa visita podem ir embora, afinal não puderam acorrentar meu coração e leva-lo junto, e dentro dele, eu reconstrui tudo o que me foi tirado… eu aprendi com Wilde a enxergar “A Beleza da Dor”, mas hoje, assim como ele, ou talvez mais intensamente que o mesmo, eu compreendo seu significado… nunca fui viciado ou apaixonado pelo padecimento e quando me vistes abraçado a ele não estava desfrutando de nenhum momento de prazer masoquista, eu apenas quis acalma-lo, ouvi-lo empaticamente e compreender o real proposito com o qual o mesmo vinha me visitar, até que enfim, ele revelou-me que sua visita a minha vida, deu-se como um desafio que deveria enfrentar para que pudesse amadurecer, este é o propósito do sofrimento: o amadurecimento…
-
Mas que bela reflexão! Então não iras incomodar-te se trazermos de volta todos
os motivos e lembranças que te fizeram sofrer anteriormente, não é mesmo?
Afinal, vocês deram-se tão bem e o mesmo te trouxe um presente tão sublime com
o passar dos anos, como continuaras a amadurecer sem teu padecimento? (risos
cínicos)
-
O sofrimento é como um mensageiro, vem com o proposito de dizer-te algo, mas
deve ir embora após isto, não se pode torná-lo seu amigo, por isso, já não o
receberei em minha casa, em meu coração, muito menos em minha vida e esta mesma
vida me mostra a cada novo dia formas diferentes de amadurecer. Padecer, foi
apenas uma dela…
-
Mas e qual será a razão de teus poemas de alma dadaista e influência gótica? Iras
continuar a preencher aos poucos teus versos brancos com toda essa afetividade
ressonante? Por que escrever sobre ternura se a melancolia te cai tão bem?
Lembra que odeias contos de fadas e que nunca soubestes criar finais felizes? A
quem queres enganar afinal? A ti mesmo e aos que lerem teus escritos? E se é
hoje és tão feliz e maduro como nos diz por que razão escorrem essas lágrimas
de teu rosto agora neste teu semblante tão apático?
-
Fui intensamente introspectivo quando mais jovem, o lapis e o papel eram os
únicos amigos que tinha e com os quais podia desabafar meus sentimentos… sempre
emocionome-me quando lembro disto e de quanto eu mudei e amadureci…essa foi a
primeira dentre as inumeras razões pelas quais comecei a escrever meus tristes
poemas: a necessidade de expressar-me! E sim, eu confesso, apaixonei-me perdidamente
por isto, mas hoje, sabiamente consigo identificar que minha paixão esta
inteiramente ligada ao hábito da escrita e não a tristeza com a qual preenchia
as linhas tortas que escrevo. Continuo, não gostando de contos de fadas, mas já
aprendi a escrever finais felizes, desde que foi-me ensinado o significado do
perdão… É dificil demais viver com tantas duvidas e remorsos no coração, eu
precisei e diariamente continuarei a necessitar libertar-me, por isso, indultem-me
por minha gosseira atitude, mas não continuarei a dar-lhes atenção e terei que
convidar-lhes a retirarem-se de minha casa, nela, já não lugar para tanta dor…
Adeus!
Dedicado ao meu amigo Izamir Araujo (Mi Punk).